Fazenda São Luiz – São Joaquim da Barra (SP)

A Fazenda São Luiz conduz áreas experimentais com sistemas agroflorestais sucessionais desde 1997, quando foi implantada a primeira experiência para a restauração de uma mata ciliar com o grupo do mutirão agroflorestal que estava nascendo naquele momento. As áreas instaladas na Fazenda São Luiz visam, além da produção agrícola e florestal, a restauração ambiental, a educação ambiental e, sobretudo, o desenvolvimento tecnológico desta prática.

A Fazenda São Luiz localiza-se entre os municípios de São Joaquim da Barra e Morro Agudo, nordeste do estado de São Paulo, região muito degradada ambiental e culturalmente pelo agronegócio. A Fazenda vive há vinte anos um processo de transição agroecológica para uma agricultura sintrópica e tropical, com árvores e biodiversidade na agricultura, e através da Educação Ambiental o resgate da relação das pessoas com a cultura da agricultura e com a Natureza.

Na Fazenda a paisagem agrícola tem sido trabalhada como um organismo, com o plantio de quebra ventos, corredores agroflorestais ligando fragmentos florestais e faixas biodiversificadas. São passos da transição que buscam trazer inovações e técnicas adaptadas para a região, que tem a base da agricultura em larga escala com o cultivo da cana-de-açúcar.

A primeira etapa da transição tem sido o redesenho da paisagem incluindo biodiversidade em faixas entre talhões e piquetes na pastagem. Na área de produção de cana-de-açúcar, a cada ano tem realizado passos com práticas agroecológicas como a redução da adubação química, o uso de controle biológico e a manutenção da matéria orgânica sobre o solo.

Uma área de 20 hectares está destinada à produção de grãos orgânicos, não transgênicos, com rotação entre soja, adubos verdes, milho, vassoura, mandioca e sorgo.

A soma das áreas agroflorestais da Fazenda é de 10 hectares, que seguem objetivos diversos com desenhos e manejos distintos: Restauração de matas ciliares, pomar, horta agroflorestal, floresta produtiva com café, teca e baru como carros chefes.

Em 1997, junto ao Grupo Mutirão Agroflorestal que naquele momento se formava, foi plantada a primeira área agroflorestal na Fazenda para a restauração de uma mata ciliar. Desde então, várias áreas foram implantadas com diversos objetivos e métodos, sempre em processos de experimentação e aprendizado, com a clareza da contribuição para o desenvolvimento de uma tecnologia essencial para a agricultura tropical sustentável.

Com o acúmulo de experiências ao longo destes 20 anos, a Fazenda tem recebido diversos grupos visitantes para conhecer as experiências e aprender fazendo, com a metodologia da realização de mutirões para integrar e gerar o conhecimento coletivamente. Os cursos de Agrofloresta são conduzidos na Fazenda por membros da equipe do Mutirão Agroflorestal com a sinergia dos talentos e a promoção de um ambiente de aprendizado conjunto, participativo e dinâmico. Além dos estágios, cursos e mutirões, são realizados estágios agrícolas com escolas com pedagogia Waldorf e trabalhos e projetos de Educação ambiental com crianças, jovens e adultos trabalhando a Agrofloresta como linguagem e estratégia pedagógica.

ÁREAS DE AGROFLORESTA NA FAZENDA SÃO LUIZ

Área do Café com Teca

Área de 0,6 hectares implantada em 2004, inicialmente formando aleias com linhas duplas de bananeiras, frutíferas e árvores com culturas anuais plantadas nas entrelinhas. Com o tempo, na dinâmica de evolução da área, foi implantado o café, teca, gengibre, inhame e açafrão. Atualmente é a área mais manejada com produção de café agroflorestal e frutas. Anualmente são realizadas podas para dinâmica, biomassa e manejo da insolação e estratificação da agrofloresta.

Hortas sucessionais

A partir de desenho elaborado pelo agricultor e pesquisador Ernst Götsch, a área da horta foi reestruturada em 2013 com canteiros de bananas com gliricidias e outras árvores dispostas em sentido Leste-Oeste com os canteiros de hortaliças entre as linhas, espaçadas entre 5 e 6 metros. Nesta área, as crianças e adolescentes recebidos na Fazenda para o programa de Educação ambiental Arte na Terra realizam suas práticas na preparação dos canteiros, podas e plantios de canteiros de hortaliças biodiversificados. O Manejo anual de cada canteiro (um canteiro por mês) é realizado com grande aporte de biomassa para o solo e produção de alimentos para o refeitório da Fazenda.

Quintal – Pomar agroflorestal

A partir de um quintal envelhecido e improdutivo, durante um curso de Ernst Gotsch, foi feito um grande manejo em 2014 com a abertura de uma clareira e a organização do material em canteiros de fruteiras (cítricos, manga, caqui, pupunha, mamei, entre outras), com bananeiras, gliricidias e árvores nativas. Nos canteiros, nos primeiros anos, foi plantado inhame, cará e hortaliças. Nas entrelinhas foi plantado capim, para alimentar os canteiros nos primeiros anos, crotalária e milho.

Mina d’água

Área que envolve a recuperação de uma mina d´água seca há muitos anos. Depois de um trabalho de desassoreamento do leito principal da drenagem da água, foi iniciado o plantio da agroflorestal ao redor. O objetivo é recuperar a função da mata ciliar integrando o ser humano no sistema com a colheita de feijão, milho, mandioca, inhame e mamão enquanto as nativas crescem. É uma experiência importante para a observação da viabilidade da restauração de áreas de preservação permanente (APPs) com a agrofloresta.

“Antigo Silo”

Um pedaço de terra coberto por braquiária. No final de 2006 a braquiária foi usada como recurso inicial para o plantio agroflorestal. Foi realizado o plantio de árvores por sementes em alta densidade junto com as sementes de milho, feijão e mandioca nas entrelinhas. A área foi enriquecida com café, bananeira e frutíferas. Hoje a área apresenta alta densidade de árvores, muitas nativas da região com potencial econômico, como o jatobá, chichá e baru.

Plantios mecanizados

Desde 1999 os plantios mecanizados tornaram-se um foco de estudos da Fazenda São Luiz pela tentativa de criar um modelo que fosse passível de utilização na complexa estratégia de implementação de sistemas agroflorestais em maior escala. Os plantios mecanizados viabilizam que grandes áreas sejam plantadas com maior eficiência do trabalho e dos recursos, e mostram-se assim, interessantes para a restauração de áreas de grandes dimensões. É uma tecnologia ainda em construção e muitos passos e experiências ainda devem ser desenvolvidos. A iniciativa partiu da Fazenda São Luiz junto ao grupo Mutirão agroflorestal e reflete a busca pelo desenvolvimento tecnológico em agrofloresta. As sementes de árvores com dimensões similares são colocadas na plantadeira convencional misturadas a um substrato com terra, areia e serragem para melhor homogeneização da mistura. Há resultados positivos com alta densidade de árvores estabelecidas promovendo uma enorme contribuição à sucessão. Esta tecnologia foi replicada em projetos como o do ISA (Instituto socioambiental) no Xingu, com grande repercussão e sucesso.

Corredor ecológico e Bordadura do fragmento florestal

Foram implantadas nos anos 2000, 2004 e 2008 áreas para conservação ambiental através de bordaduras de fragmentos florestais, corredor unindo dois fragmentos florestais degradados, aleias diversificadas com cultivo orgânico de grãos intercalados e faixas agroflorestais em meio aos talhões de cana-de-açúcar. As principais culturas destas áreas são o café, seringueira, espécies nativas como baru e palmito gairova e espécies madeireiras.
Infelizmente em 2014 estas áreas sofreram um grande incêndio e grande parte das plantas morreu. No momento acompanhamos a regeneração e estamos em planejamento para a continuidade das ações para aumentar a resiliência e conexão entre as florestas da propriedade.

Coleta de Sementes nativas

A Fazenda São Luiz realiza um grande trabalho de coleta de sementes de árvores nativas da região para: i) promover o plantio adensado de árvores por sementes em sistemas agroflorestais, ii) promover e fomentar a biodiversidade local, iii) realizar experiências e registros com relação a coleta, beneficiamento, plantio, armazenamento, germinação e viabilidade das sementes, iv) trabalho educativo com o Projeto Arte na Terra, e v) comercializar sementes de espécies nativas para projetos agroflorestais. Já foram catalogadas 140 espécies coletadas e plantadas.

Arte na Terra Educação Ambiental

Em 2002 foi iniciado na Fazenda São Luiz o Projeto Arte na Terra de Educação Ambiental. O trabalho tem como principal objetivo proporcionar experiências práticas e atividades de vivências na natureza e no campo que contribuem para despertar a percepção ambiental e trazer à tona valores e conceitos acerca das relações das pessoas entre si e com o meio em que vivem. A agrofloresta sucessional tem se mostrado uma ferramenta metodológica maravilhosa para o processo de educação ambiental com crianças, jovens e adultos possibilitando a reintegração ao meio, o resgate da função do ser humano como ser biológico, o desenvolvimento de uma nova postura com relação à natureza, a consciência da direção do planeta Terra com vida, e proporciona uma vivência ímpar de participação positiva na criação de agroecossistemas. Entre os grupos recebidos pelo Projeto Arte na Terra estão principalmente crianças e jovens, estudantes de ensino fundamental, médio e superior, educadores e agricultores. São realizados Estágios agrícolas com alunos de nono ano de diversas escolas com pedagogia Waldorf com resultados profundos através da vivência de uma semana em trabalho na Agrofloresta.

A Fazenda São Luiz produz conhecimentos, experiências e produtos agroflorestais, é a sede da ONG Mutirão agroflorestal, unindo e conectando as pessoas em torno da Agrofloresta e a irradiando para o mundo, e abriga o Arte na Terra aglutinando educadores na missão de despertar crianças e jovens para a transformação da postura no Planeta através da Agrofloresta.

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